medo

O oposto do medo não é a esperança

Autor: Maya Paranhos Colares
Data da publicação: 22 abril, 2021

De acordo com a filosofia de Espinoza o medo consiste de um dos elementos essenciais da natureza humana. Segundo ele, esse sentimento se estende muito mais além do indivíduo, tendo efeitos positivos na sociedade, embora da mesma forma que possui a esperança.

O filósofo Baruch Espinosa disse que as duas emoções humanas básicas são o medo e a esperança. Em princípio, pode-se considerar que essa maneira de pensar cria uma espécie de antagonismo entre os dois sentimentos. Contudo, o medo se considera a expectativa de que algo ruim poderia acontecer, logo a esperança consiste na expectativa de que algo bom ocorrerá.

Espinosa, o medo e Hobbes

“Se o grande segredo do regime monárquico e seu interesse maior é o de enganar os homens e colorir com o nome de religião o medo que lhes deve dominar, a fim de que combatam por sua servidão, como se se tratasse de sua salvação […]; bem ao contrário nada se pode conceber nem tentar de mais aborrecido em uma república livre.”

Decerto a posição de Espinosa sobre o medo e a esperança é apenas uma crítica a outro filósofo, Thomas Hobbes. Em termos gerais, para este último, a sociedade é uma verdadeira selva. Ou seja, segundo a sua concepção os homens competem por bens uns com os outros e, pelo mesmo motivo, não confiam uns nos outros.

Assim sendo, o desejo de lucro, o desejo de segurança e glória levam à violência e ao domínio. Dessa maneira, Hobbes acreditava que esta é a condição humana. Além disso, quando uma guerra não anunciada prevalece, surge uma realidade cercada de medo.

Para resolver esse problema, Hobbes acredita que os indivíduos abrem mão da possibilidade de se governar e transferem esse direito para o Estado. Por isso, Thomas Hobbes disse que é um tratado entre a sociedade e o poder, e o tratado “é baseado na força”. No final, o filósofo acredita que o preço da segurança é a liberdade.

Em contrapartida, Espinosa descorda do entendimento de Hobbes. Logo, ele ressaltou, a princípio, que o medo é importante para governar uma sociedade: “É terrível que as pessoas percam o medo”, disse ele. No entanto, ele também acredita que a humanidade não deve renunciar à liberdade e que é possível cooperar para a realização de interesses comuns.

A esperança e o medo

O que Espinosa disse sobre o medo e a esperança é que eles são mais semelhantes do que as pessoas pensam. Nesse sentido, sabendo que o medo é um sofrimento instável. Dessa forma surge a ideia de coisas negativas que podem ou não acontecer no futuro, ou que podem ter acontecido no passado e podem acontecer novamente. No entanto, não está claro se elas realmente acontecerão.

Em contrapartida quando se trata de esperança, ela é uma alegria instável. Ou seja, surge da ideia de que algo de positivo pode ou não acontecer no futuro, ou que pode ter acontecido no passado e pode acontecer novamente. Nesse caso, você não pode ter certeza de que realmente acontecerá.

Portanto, como é possível perceber, a única diferença entre eles é o estado de ânimo. Caso contrário, elas são realmente as mesmas condições. Especificamente, ambos estão relacionados a coisas que podem ou não acontecer, portanto, ambos trazem dúvidas.

Espinosa e a liberdade

Para Espinosa, não há medo sem esperança e não há esperança sem medo. Logo os dois são sentimentos complementares e neles existe o domínio do poder. Em suma, quando o medo e a esperança se combinam, surgem a superstição e o preconceito.

Por isto, Espinosa disse que sim. Resumindo, o conselho do filósofo consiste em encontrar e compreender a origem do medo e, então, lidar com ele. Em outras palavras, você não precisa esperar ou apenas sonhar, mas sim agir para evitar o perigo, seja ele fruto do medo ou pela esperança.